Algo que irritava bastante o nosso herói era o fato de ele nunca poder dizer o que realmente sentia em relação às situações e pessoas.
Ele era saudoso. Tinha transtorno obsessivo de sentir saudade de alguns. Uma vez passou um dia sem falar com uma garota com quem gostava muito de conversar - isso era raro - e resolveu falar isso a ela. O efeito disso é instantâneo. A criatura morreu de medo dele, de modo que ele perdeu assim a saudade e a garota.
Lição de vida número um: nunca diga às pessoas o quanto gosta delas nem o quanto sente falta delas, as lindinhas acham o amor pesado demais. Elas não suportam a idéia de felicidade e totalidade, são parvas, não cabe. Elas gostam mesmo é de desprezo, indiferença e grosseria.
Deixou de ser saudoso, então, e ficava se tornando esse ser estranho a cada passo que ia dando. O mundo só oferecia a ele a aprendizagem que serve para desumanizar e deixar os seres mais herméticos e inacessíveis.
Acordava mais banal a cada dia. Não por vontade, ao contrário do que pensava. Ser banal é uma etapa darwinista.